
AMOR divino

Desde que o mundo é mundo, algumas pessoas vivem se questionando sobre de onde viemos e para onde vamos. O ato do nascer e do morrer cria muitas incógnitas na cabeça de filósofos e pessoas de modo geral. Com o surgimento das sociedades apareceram algumas explicações para tais fenômenos. Dependendo da cultura, tempo e localidade os seres humanos foram se constituindo juntamente com suas crenças, seu amor ao divino, que pode ser manifestado através da religião. Esse amor divino se tornou tão complexo e amplo que passou a ser muito maior do que apenas uma resposta para nossa existência, mas algo que vai muito além!
A construção de nossas sociedades está ligada diretamente às raízes religiosas e as crenças que cresceram junto com essas nações. Por isso, à medida que vamos crescendo e convivendo acabamos nos conectando a elementos que passam a fazer parte de nosso cotidiano, como a religião por exemplo. Essa, por sua vez, vem formulada de diversos conceitos de moralidade e até mesmo algumas regras a serem seguidas. Tudo isso influencia diretamente na construção das pessoas, das sociedades e suas respectivas culturas.
Aqui no Brasil, a religiosidade tem uma base muito forte que acaba se tornando uma tradição familiar. É muito comum que os pais ou familiares passem suas crenças para seus filhos ou pessoas próximas. As crianças, por vezes, acabam sendo levadas à instituições religiosas muito cedo, por isso não conseguem eleger sua crença por si só, e acabam seguindo a mesma crença de seus pais ou responsáveis. Entretanto, a partir do momento em que a criança cresce e ganha mais autonomia, ela tem mais facilidade para optar seguir sua religião, mudar para outra(s) ou até mesmo não seguir nenhuma.
A crença e a religiosidade, mesmo sendo subjetiva, influência a vida social, na medida em que motiva comportamentos e ações. Através delas, podemos conhecer melhor o local onde determinadas pessoas vivem, seus valores e cultura. Podemos concluir que a religião é influenciada pela cultura, mas ela também influencia a cultura daqueles que vivem em seu entorno.
Deste modo, existem diversas religiões sendo cultuadas por todo o mundo. No Brasil, 87% da população se declara cristã, sendo sua maior parte católico-romana (64,4%). Essa predominância de católicos se dá ao fator histórico da colonização dos Portugueses aqui no Brasil. Por isso o catolicismo era considerado a religião oficial do nosso país até a Constituição Republicana de 1891, na qual o Brasil passou a ser país laico.
Entretanto, mesmo com todas essas raízes religiosas, de acordo com a base de dados do IBGE, o número de católicos e o poder da igreja católica vem diminuindo nas últimas décadas. Se em 1970 havia 91,8% de brasileiros católicos, em 2010 essa parcela passou para 64,6%. Enquanto isso, os evangélicos, nesses quarenta anos, passaram de 5,2% da população para 22,2%.

Não apenas a religião evangélica começou a tomar espaço, mais muitas outras crenças aumentaram o número de seus fieis. Ainda segundo a pesquisa do IBGE é possível ver essa diversidade pela composição religiosa do Brasil:
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64,6% (cerca de 123 milhões) declaram-se católicos;
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22,2% (cerca de 42,3 milhões) declaram-se protestantes (evangélicos tradicionais, pentecostais e neopentecostais);
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8,0% (cerca de 15,3 milhões) declaram-se irreligiosos: ateus, agnósticos, ou deístas;
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2,0% (cerca de 3,8 milhões) declaram-se espíritas;
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0,7% (1,4 milhão) declaram-se as testemunhas de Jeová;
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0,3% (588 mil) declaram-se seguidores do animismo afro-brasileiro como o Candomblé, o tambor de Mina, além da Umbanda;
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1,6% (3,1 milhões) declaram-se seguidores de outras religiões: os budistas (243 mil), os judeus (107 mil), os messiânicos (103 mil), os esotéricos (74 mil), os espiritualistas (62 mil), os islâmicos (35 mil) e os hoasqueiros (35 mil).
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Existem também registros de pessoas que declaram-se baha'ís e wiccanos, além de outras religiões, porém esses dados não foram quantificados.
Existem diversas pessoas cultuando suas respectivas religiões, que possuem suas divindades, suas doutrinas, seus rituais, seus símbolos, espaços e textos sagrados. Um elemento que se repete em praticamente todas essas religiões é a presença do amor. Mesmo que ele não seja citado claramente em alguns textos bíblicos, ele se manifesta através de ações ou ensinamentos destas respectivas crenças.
O estudante de engenharia Nikolas Gabriel relatou que ''O amor para mim sempre foi sinônimo de uma força maior, sempre acreditei em Deus como sendo amor. E se eu manifestasse amor em tudo que eu fizesse, manifestaria essa energia.''. Assim como ele compreende Deus sendo amor, muitas outras pessoas compartilham deste pensamento.
A professora Maria Olízia também pontuou a importância do amor divino para a consolidação de seus diversos outros amores. "O amor divino é maravilhoso, porque é pleno, é incondicional! Para mim esse amor é o pilar para meus outros amores. É como uma grande luz que ilumina minha alma... fazendo existir amor próprio e o amor aos demais
Mas se o amor é o alicerce que une todas as religiões, como é possível que alguns indivíduos utilizem a religião para propagar o ódio? Segundo uma entrevista cedida ao portal Catraca Livre, a pastora Alexya Salvador diz acreditar que todas as instituições religiosas devem ser inclusivas e respeitosas, pois, segundo ela, "quem exclui não aprendeu com Jesus". Ela relata que em sua trajetória sofreu muitos preconceitos e transfobias, por isso hoje em dia aborda temas como intolerância religiosa, transexualidade e inclusão.
Conciliar a minha fé com a minha sexualidade, com a minha identidade... hoje eu posso fazer isso! Hoje eu encontrei uma igreja que me acolheu da forma que eu sou. Durante a minha adolescência toda eu rezava, orava, fazia promessa para que deixasse de sentir as coisas que eu sentia. É claro que depois entendi que não tinha nada de errado comigo. Entendi que não tinha o quê Deus curar em mim. Claro que Deus tem que curar muita coisa em mim: orgulho, prepotência, vaidade, autossuficiência, como em todos os seres humanos, mas não a minha identidade, não aquilo que eu sentia."
Cada vez mais vemos exemplos de pessoas utilizando a religião como desculpa para serem preconceituosas e violentas. Outro exemplo são religiões de matriz africana que desde muitos anos vem sendo perseguidas. Ainda nos dias atuais é possível notar uma extrema falta de informação e preconceito em relação a essas religiões, crenças e costumes.
A administradora Esther Acacio conta que cresceu acreditando na mesma religião que seus pais e ao frequentar o âmbito de sua igreja aos poucos foi aprendendo que apenas a religião dela era correta. Mas ao passar por um momento difícil e não receber o apoio de sua comunidade religiosa ela abandonou esta religião. Foi apenas no momento em que ela se deparou com a Umbanda que pode encontrar o apoio e respeito que tanto almejava.
"Sou filha de pastor, nasci e fui criada na igreja. Antes eu era intolerante com qualquer outra religião que não fosse a minha. Mas eu acabei me magoando muito com o cristianismo e com as pessoas do cristianismo, por isso me afastei. Eu sempre acreditei que Deus é a forma de amor mais bonito que pode existir, então comecei a estudar sobre diversas religiões, uma delas foi o Espiritismo. Uma religião que ainda sofre muito preconceito por ser afrodescendente. E foi justamente ali que eu me encontrei. Eu pude
sentir paz! Hoje sou umbandista e o lema da minha religião é amor, paz e caridade. Essas três palavras já falam por si, me encontrei, me senti acolhida e amada. Todas as religiões tem caminhos distintos, porém, todas nos conectam com um ser maior de amor, chamado Deus, Oxalá ou como você preferir chamá-lo."
Assim como Ester, a história da técnica em enfermagem Michelle Callef na religião, começou desde cedo. Quando criança ela frequentava a igreja católica junto com sua mãe, fez catequese, primeira comunhão e participada das missas. Mas, ela nunca sentiu que ali era seu lugar "eu só ia porque minha mãe me levava". Em determinado período de sua vida ela parou de frequentar a igreja e ficou sem religião por um tempo, até encontrar a Umbanda, religião na qual ela se encontra atualmente.
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De acordo com a lei de nosso país vivemos em um estado laico, é por isso que cabe a cada indivíduo definir qual crença irá seguir, podemos cultuar uma e mudar, frequentar mais de uma ou até mesmo optar por ser ateu e não seguir nenhuma. O amor às suas crenças e a sua religião não pode passar por cima do respeito ao próximo. Não apenas porque o amor é o que a própria religião dita, mas sim por uma questão moral e até mesmo legal. Por isso mesmo as pessoas que não possuem nenhum vínculo com a religião precisam respeitar o outro.
A estudante de direito Mariana acredita que o amor à religião, em alguns casos, pode ser perigoso. Isso porque ele tem a possibilidade de gerar o fanatismo. Além de não apoiá-lo, ela acredita que ele pode limitar as pessoas, influenciá-las ou até mesmo gerar preconceito e falta de respeito para com o outro.
"Você não é obrigado a acreditar em Deus, mas se você praticar a caridade e o bem ao próximo já basta. A religião ela não dita sua vida, o que dita é seu caráter, seus valores, sua crença e se você é uma boa pessoa ou não. Se você quer ter um amor a alguma religião, tem que ser um amor que te faça bem. Que você continue sendo sempre uma pessoa boa, tanto para você quanto para o outro."
Com o crescimento da diversidade de religiões foi possível notar também o aumento dessa discriminação religiosas. Por isso que para coibir atos de preconceito e demais violências, a Constituição define o Brasil como um Estado Laico, prevendo liberdade religiosa aos cidadãos.




"Penso e acredito que a intolerância religiosa é uma contradição imensa. Religião vem do latim religare, ou seja, é o humano que se conecta e reconecta com Deus diariamente. E quando a gente vê religiões promovendo a discórdia, a segregação, a exclusão de pessoas porque elas não estão na conformidade dita por elas que dizem que é a correta, que é a aceita por Deus e pelo cristianismo, automaticamente a religião perde a sua essência, o seu valor. Ou seja, a intolerância religiosa só produz morte, segregação, opressão. Ela ceifa vidas.


"Quando eu pisei no terreiro pela primeira vez e ouvi o som do atabaque tocar, eu sabia que pela primeira vez eu tinha achado o meu lugar no mundo, a minha missão! A espiritualidade não serve pra livrar das provações da vida, mas sim pra ajudar a passar por elas e lidar da melhor forma possível.''
Segundo Adnan Advíncula, mesmo que o Cristianismo seja a religião com maior número de adeptos, ainda assim existe toda essa pluralidade de religiões. Por isso, o direito possui diversas leis que fomentam com que os cidadãos respeitem as religiões existentes e seus devidos costumes e rituais. Ainda segunda a Constituição, a Lei nº 7.716 criada em 1989 e atualizada em 1997, considera crime a prática de discriminação ou preconceito contra quaisquer religião.

Para além de uma intervenção legal, nosso país também aposta em iniciativas de conscientização da população. Como exemplo temos a criação de uma data que demarca a importância acerca do respeito as diversas religiões e o combate a intolerância religiosa. A elaboração dessas políticas públicas de proteção e conscientização colaboram para a luta contra o preconceito e também contribuem para que esses assuntos virem pautas. Nas escolas, por exemplo, é muito frequente que os professores aproveitem a data para abordarem o tema e ensinarem para as crianças acerca destas questões.
O amor divino não deve influenciar que alguém prejudique o outro, justamente pelo contrário, todas as religiões e crenças buscam a mesma coisa... o Divino. E ele está em todas elas, por isso, o importante não é religião e sim estar aonde nos faz bem! Estar aonde o amor, a crença e nosso coração está! Mesmo que não seja em nenhuma religião. O respeito ao outro e a todas as religiões é fundamental! E assim como Bráulio Bessa recita em seu poema, "Respeite mais, julgue menos!".
"Respeite mais, julgue menos!
Perdoe mais, condene menos!
Abrace mais, empurre menos!
Faça mais, fale menos!
E se o assunto for religião,
seja razão, seja a sua razão.
Mas também seja coração,
aliás, seja plural, seja corações,
de todas as crenças,
de todas as cores,
de todas as fés,
de todos os povos,
de todas as nações!
Não transforme sua fé,
em uma cerca de arames cortantes!
Use ela pra se transformar
em alguém melhor que antes.
Em alguém melhor que ontem!
Se transforme, transforme alguém,
afinal, do que vale uma prece
se você não vai além?
Se você não praticar o bem?
Pratique o bem sem olhar a quem!
Sem se preocupar com a crença de ninguém!
Pois acredite, Deus não tem religião também!
Deus é o próprio bem!
Deixe Deus ser o Deus de cada um!
Deixe cada um ter o Deus que quiser ter.
Seja você!
E deixe o outro ser o que ele quiser ser!
Seja menos preconceito!
Seja mais amor no peito!
Seja amor, seja muito mais amor.
E se mesmo assim for difícil ser,
Não precisa ser perfeito.
Se não der pra ser amor,
seja pelo menos RESPEITO."

